sábado, 12 de novembro de 2011

A comunidade acadêmica versus a Cãibra Cerebral da Opinião Pública

Como se sabe, sou aluno da USP, mais especificamente, de Ciências Sociais, da tão famosa Faculdade de Filosofia Letras e Ciências Humanas, a FFLCH. No último mês, nós da Comunidade Acadêmica do campus Butantã, temos vivido tempos difíceis no que se refere a questão da presença da PM dentro do Campus. Não alinhado a partidos ou à Ideologias (embora eu transpareça outra coisa), eu pensei nesse post como um esclarecimento de quem vê de dentro, mas também de fora. Nunca fui de participar do Movimento Estudantil e, em muitos momentos, critiquei as ações exasperadas tomadas por esse corpo representativo. Porém, tendo em vista a situação na qual nos encontramos, vi necessidade de expor minhas ideias sobre o tema. Estava presente no dia 27 de Outubro, quando a confusão entre PMs e Alunos da FFLCH aconteceu. Não acompanhei do começo ao fim, pois achei que era alguma besteira, como tantas que acontecem dentro daquele campus. Resolvi me interar quando percebi que a questão era mais séria e quando já havia tomado proporções maiores. Naquele dia vi estudantes hostis sim, mas também vi PMs não muito felizes com a manifestação dos alunos e sem seus nomes na farda. Por sorte, resolvi ir embora da Faculdade instantes antes da pancadaria entre a Polícia e os alunos começar. Não poderia me dar ao luxo de apanhar da Polícia, tendo que acordar cedo no dia seguinte para trabalhar. Supreendentemente, muitos de nós, USPianos, trabalhamos! Mesmo assim, tive tempo de ouvir as bombas estourarem. Daí em diante, a Mídia se dedicou a cobrir a situação de CAOS que começava a se instalar dentro da Universidade. Não estou aqui para demonizá-la, embora alguns membros dela pareçam ter saído das profundezas do Inferno com suas opiniões generalizadas e tão tacanhas, mas ela está longe de ter se colocado no caso de modo imparcial. Até entendo que business are business e que nenhuma Mídia hoje em dia é imparcial, mas conseguiu-se, desde então transformar o aluno USP num padrão "filhinho de papai, maconheiro, revolucionário de GAP e Ray Ban, que onera os cofres públicos". Não sou a favor de ocupação, pois acho que o Movimento Estudantil ainda é muito imaturo e intransigente em sua tomada de decisões e precisa de amadurecimento na execução política, longe do jugo dos partidos (da Esquerda e da Direita, diga-se de passagem), mas é preciso saber que GENERALIZAR não é o caminho. Existem sim interesses escusos que se misturam á deliberação estudantil, mas existem lá, também, exigências prudentes que ajudariam a solucionar os problemas pelos quais nosso Campus passa.
Esse movimento, dentro das Redes Sociais, dedicado a nos demonizar ( falo em 3ª pessoa do plural, porque, quem generaliza, por preguiça, coloca a todos no mesmo saco), é a mais ridícula atitude que eu já vi. Como disse aqui, e repito, NUNCA me envolvi diretamente nas ações do Movimento Estudantil, sempre produzi críticas à elas, mas sei reconhecer quando o debate delibera propostas produtivas e úteis à Comunidade Acadêmica. Como eu desenvolvi essa capacidade de deixar meu orgulho de lado e rever minhas posições? Dentro da faculdade. Nesses anos de curso Superior eu desenvolvi um senso crítico que grande parte da Opinião Pública tem atacado. Deixando de lado os excessos, sempre haverá, dentro de uma Universidade, o pensamento LIVRE e o QUESTIONAMENTO. A USP tem, por tradição (pra não dizer que eu não falei dela) formar pessoas que questionam, que pensam, que refletem, mudam (ou não!) de opinião e, mais: que FORMAM opinião. Para o Bem ou para o Mal, fica a cargo de cada um. Aliás, eu acredito que TODA Universidade deveria se dedicar a formar questionadores, sejam eles da área de atuação que forem. O que parece que se pretende fazer e o que se espera dos alunos do Ensino Superior é a mera formação técnica que, de certo modo, anule a formação intelectual do indivíduo. Não trato FORMAÇÃO INTELECTUAL unicamente como dedicação à esfera acadêmica. Pode-se, muito bem, estar dentro do mercado de trabalho e continuar pensando, questionando (não paga Imposto, sabia?!?). Quem comanda a Educação no Estado e a USP tem aproveitado esse clima de CAOS exposto pelos meios de comunicação - representado em níveis que extrapolam a realidade porque, apesar da tensão, a USP continua produzindo - para concentrar a argumentação dos Estudantes em mera PRESENÇA ou AUSÊNCIA da PM dentro do Campus, tirando, assim, o foco de outras questões tão ou mais importantes. O Movimento Estudantil não tem pedido só isso em suas reivindicações (link aqui). Estive olhando a ata da "Assembleia dos 3 mil" e as deliberações são várias, além do indicativo ou comando de greve. Pontos como: melhora na iluminação do campus, Guarda Universitária capacitada e melhor treinada, abertura da Universidade à Comunidade da cidade como um todo e até mesmo a existência de um ônibus circular GRATUITO que leve os estudantes até a estação Butantã estão presentes nas reivindicações. Você, que lê esse post, sabia que nós da Comunidade da USP (alunos, funcionários e pessoas que utilizam os serviços da Universidade) não tivemos direito a um circular que nos levasse da USP ao Metrô? Essa decisão coube a Reitoria, que disse ser impossível disponibilizar um ônibus que fizesse tal trajeto que dura, fora do Campus, no máximo, 10 minutos. O máximo que ela pôde fazer foi solicitar uma linha PAGA à SPTrans. Você deve estar pensando "Vá à pé!". Ok, poderíamos fazer o trajeto à pé, mas as redondezas de FORA da USP não são seguras para que possamos andar tranquilos a partir de determinado horário. Além disso, para muitos estudantes, não cabe no Orçamento esse gasto excedente da Linha "Cidade Universitária-Metrô Butantã". Por quê a Mídia não fala desses outros pontos? Por que abordar somente a baderna e "maluquice" dos estudantes? Por que, quem está de fora e desinformado de tudo prefere aderir ao senso comum e a generalizar os estudantes como "playboyzinhos maconheiros rebeldes sem causa"? Assim como eu, muitos lá dentro tem uma rotina apertada que envolve acordar cedo, trabalhar e estudar E PAGAR CONTAS NO FINAL DO MÊS, que não diferem em quase nada da vida de muitos outros paulistanos (alguns desses que nos demonizam), que não se incluem por completo à mobilização, por uma razão ou outra, mas que, mesmo assim, buscam questionar a situação, divergir ou não de opinião. É preciso que se faça o exercício de sair do Senso Comum e de evitar as Generalizações. Procurar saber, se informar, saber perceber quando o que se lê ou vê é pesado nas tintas ou se, de fato, é real. Não somos acostumados nem estimulados a desenvolver o senso crítico. Para ELES, que estão no topo da pirâmide do poder (em todos os âmbitos - Federal, Estadual e Municipal), o Cinismo da Opinião Pública é útil para perpetuar esse quadro e uma arma contra quem foge à regra. O único lado visto é aquele que expõe alunos do Movimento Estudantil sendo manobrados por Partidos Políticos (isso, de fato, ocorre), mas, eu pergunto: E as pessoas que se rendem à opinião formatada, enlatada, vendida pronta: São o que? No mínimo, preguiçosas.
É claro que há muito o que mudar nas ações do Movimento Estudantil. É preciso amadurecimento e menos radicalismo, sem falar na submissão a partidos que, certo modo, é extremamente prejudicial para a união os Estudantes. Ocupações e greves quase sempre não são a melhor forma de conseguir as mudanças necessárias, mas, às vezes, servem pra levar o Debate das questões que afligem o ambiente universitário além dos Centros Acadêmicos das Faculdades da USP, atingindo o maior público possível.
Antes de gastar seu tempo com coisas bestas como chamar a todos nós de baderneiros e maconheiros, dedique-se a pensar e a desenvolver questionamentos plausíveis. É um ótimo exercício.
Em tempo, nunca vou perder orgulho de ser USPiano.